JUL'2022

A tecnologia ao serviço dos novos paradigmas de Apoio Domiciliário

Se há uns anos atrás a opção de ir para uma Estrutura Residencial para Pessoas Idosas era aquela que melhor garantia a certeza dos cuidados e a segurança necessárias a um envelhecimento de qualidade, hoje em dia já não é bem assim.

E no futuro queremos que o seja ainda menos. Quem é que não almeja envelhecer em slow motion, na sua própria casa, rodeado da(s) sua(s) estória(s)?

A grande questão que se coloca é se realmente, enquanto sociedade, conseguimos já reunir as condições para que isso possa efetivamente acontecer. E acontecer com qualidade!

O setor da prestação de cuidados de longo termo no contexto da economia social tem vindo a evidenciar uma progressiva dificuldade de recrutamento de mão-de-obra, problema que se acentuou significativamente com a pandemia de Covid-19, e que só tende a piorar com o aumento da longevidade. Segundo dados da OCDE, o número de pessoas com mais de 80 anos irá passar de 57 milhões em 2016 para 1.2 biliões em 2050 nos 37 países da OCDE e, mantendo-se o atual rácio verificado nestes países de 5 profissionais para cada 100 pessoas maiores de 65 anos, isso implica que o número de profissionais necessários precisará de aumentar em 13,5 milhões até 2040.  

Ora, isto é claramente um desafio que carece de um outro olhar e, sobretudo, que se alavanquem outro tipo de soluções para o problema. E a tecnologia está, claramente, num ponto em que nos permite ser altamente disruptivos no que toca também aos modelos de apoio social e de saúde. Não seria razoável – diria até que seria pouco inteligente – não o aproveitarmos para revolucionarmos o paradigma de apoio domiciliário aos mais idosos ou dependentes.

A convergência de várias tecnologias tem vindo a possibilitar uma explosão na área da IoT (Internet of Things ou Internet das Coisas) que não deve ser descurada quando se procuram soluções que permitam à população mais idosa ou mais dependente poder manter-se na sua residência habitual. O acompanhamento e monitorização das pessoas e do ambiente por estes sistemas “inteligentes” passará por termos uma série de objetos do nosso quotidiano que estão ligados à internet e que recolhem e analisam dados provenientes quer do ambiente (através de sensores) quer da própria pessoa (através de relógios, pulseiras, e outros wearables cada vez mais elaborados). Estes sistemas serão também capazes de “aprender” através da cumulação dos dados que vão recolhendo e de apoiar e orientar a ação e a tomada de decisão – quer do próprio, quer dos profissionais.

Por um lado, apoiar a própria pessoa, não apenas preparando e disponibilizando por exemplo uma toma de medicação, mas também, por exemplo, analisando a temperatura ambiente e sugerindo a roupa mais adequada ou lembrando a aplicação de protetor solar devido ao risco elevado de exposição à radiação UV num dia se sol, ou sugerindo um conjunto de exercícios físicos a um diabético em função da monitorização do seu índice de glicemia, ou guiando a pessoa de volta a casa se esta se afastar demasiado duma zona de segurança estabelecida, ou… praticamente tudo o que as necessidades demandarem. 

Por outro lado, a tecnologia pode ter aqui um papel absolutamente relevante na forma como vamos lidar com a escassez de recursos humanos para prestar apoio a um tão elevadíssimo número de pessoas num futuro muito próximo. Nunca perdendo da ideia a noção imprescindível de que o apoio social e a prestação de cuidados deve ter como alicerce absolutamente fundamental as PESSOAS, e que o nosso caminho enquanto sociedade evoluída nunca deverá ser o de ter máquinas a substituir pessoas naquelas que são as áreas basilares do desenvolvimento humano, o que é certo é que a tecnologia pode e deve ser uma ferramenta de apoio de elevadíssimo impacto. 

A ideia deverá ser a de colocar a tecnologia ao serviço das pessoas e das Instituições, facilitando a monitorização contínua de parâmetros relevantes, diminuindo os tempos de análise e decisão, orientando a própria tomada de decisão, agilizando a resposta nomeadamente em casos de emergência e prevenindo a ocorrência de situações críticas.

Em suma, a tecnologia não somente deve ser vista como um pilar da solução para os desafios do envelhecimento em contexto domiciliários, mas também para os desafios associados à sustentabilidade dos cuidados e à escassez de recursos humanos.

Patrícia Fernandes | Social Economy Business Coordinator
F3M Information Systems, S.A.



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