JAN'2022
Por um planeta sustentável: vamos dar uma nova vida às lentes de contacto
 
As lentes de contacto (LC) são dispositivos médicos usados por 150 milhões de pessoas para corrigir problemas de visão. Uma vez que se prevê que a miopia e a presbiopia apresentem um aumento significativo nos próximos anos, espera-se também um aumento no mercado global das LC. 
 
Por questões de conveniência e higiene, as LC descartáveis tendem a ser a primeira escolha dos consumidores, sendo as mais populares as de substituição diária. De acordo com a International Contact Lens Prescribing 2020, as LC descartáveis diárias são atualmente as mais prescritas o que pode ter um impacto ambiental adverso, resultante da necessidade de descartá-las todos os dias.
 
As LC são constituídas por material polimérico não biodegradável e, depois de usadas, são frequentemente atiradas para a sanita, para o lavatório ou para o lixo doméstico, o que significa que vão acabar em aterros sanitários, nas estações de tratamento de esgoto ou em cursos de água podendo eventualmente chegar ao mar.

Observando alguns números que estão na base desta preocupação, percebemos que se está a tornar cada vez mais urgente criar uma forma de recolher e retirar do ambiente as LC usadas:
Na Grã-Bretanha são eliminadas, todos os anos, 725 milhões de LC (Johnson, 2018); 
Nos Estados Unidos da América há 45 milhões de utilizadores de LC e, anualmente são eliminadas entre 1,8 e 3,36 mil milhões de lentes pela sanita (Rolsky, Kelkar, & Halden, 2018).
 
Devido às características e propriedades das LC, surge a possibilidade da valorização do polímero. A Universidade do Minho está a desenvolver um projeto conjunto entre o Centro de Física das Universidades do Minho e do Porto, o Centro de Biologia Molecular e Ambiental e o Instituto de Polímeros e Compósitos com o título “Contact lens materials: An ecosystem issue and a contribution to a circular economy”. Estudos realizados na primeira fase deste projeto indicaram que os polímeros das LC não são biodegradáveis e vão contribuir, de forma significativa, para o aumento de microplásticos no meio ambiente. Os micro e nanoplásticos são reconhecidos, atualmente, como um risco ambiental importante, pois seguem o caminho dos aterros até aos cursos de água (rios e mar), podendo ser ingeridos por peixes e, assim, entrar na cadeia alimentar. Assim, este projeto tem o objetivo de, não só consciencializar a população sobre este problema, mas também estudar novas formas de reutilizar e valorizar os materiais poliméricos das LC usadas ou fora de validade. Desta forma, para além de retirarmos do meio ambiente este material não biodegradável, aumentamos o ciclo de vida destes polímeros.

Madalena Lira, Centro de Física das Universidades do Minho e do Porto, Departamento de Física
Paula Sampaio, Centro de Biologia Molecular e Ambiental, Departamento de Biologia
Fernanda Cássio, Centro de Biologia Molecular e Ambiental, Departamento de Biologia
Ana Vera Machado, Instituto de Polímeros e Compósitos; Departamento de Engenharia de Polímeros
Rita Alves, aluna de doutoramento com Bolsa da FCT


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